CONFLITOS
EM SALA DE AULA
É
frequente nas salas de aula acontecer vários conflitos, geradores de brigas,
desavenças, inimizades e agressões verbais ou físicas. Acontece porque
reconhecêssemos que estamos falando de um espaço onde convivem muitos indivíduos
e cada um com suas particularidades, crenças e gostos. É na sala de aula que
produz esses encontros, da mesma forma acontece em empresas, escritórios, entre
uma mesma categoria profissional e dentro de casa.
Sem
entrar no mérito da razão de um lado, da culpabilidade do outro. Sem querer
discutir se os conflitos são influenciados pela cultura extramuros ou se os
conflitos oriundos das salas de aulas são estopim para as desavenças futuras na
sociedade. Precisamos, como cidadãos, reconhecer que nossa fragilidade está
realmente aí: nas relações humanas. São essas questões que entravam projetos,
que destroem sonhos, que emperram trabalhos, trazendo prejuízo a todos os
envolvidos.
Mas
na sala de aula, sendo professor, como intervir da melhor forma e apagar a
pequena chama acendida de um futuro incêndio?
Em
minha sala, por exemplo, procuro fazer a política contra fofoca. Sabemos que as
crianças têm por hábito vigiar o comportamento dos colegas, por vários motivos.
Creio que como sociedade, temos dado péssimos exemplos a elas. Então, quando
uma criança se dirige a mim, como seu professor, para apontar alguma falha do
colega, questiono-a se, antes de me informar, teria alertado o colega sobre as
faltas. Sei que crianças dos primeiros anos do Ensino Fundamental terão mais
dificuldades em compreender minhas intenções, no entanto, as crianças maiores
já percebem que poderiam evitar o trabalho se alertassem o amigo ou se, ao
menos, ignorassem o problema, caso não fossem atingidas diretamente. Até porque
todo bom professor deve estar atento para todos os acontecimentos dentro de sua
sala de aula, sendo assim, o aluno pode evitar aborrecimento, pois sabe que o
professor já viu e terá que tomar atitude sobre o que viu.
Você
poderia estar questionando-me a respeito de minha atitude, mas creio que esses
meus atos podem contribuir para que a criança pense em si e em sua relação com
todos dentro da sala de aula. Inclusive comigo mesmo. Pois eu também não
gostaria de que alunos meus procurassem fora da sala de aula a solução de um
problema que eu causei. Por isso, mostro-me sempre disposto a rever até meu
próprio comportamento com elas. E digo que, até hoje, tenho tido bons
resultados.
Mas
se a criança ainda teima em delatar seus companheiros ao professor, ao “tio” e
“tia” da creche ou, até mesmo, para os Inspetores de alunos? Para isso tenho o
hábito de, antes do aluno denunciar e comentar o fato, chamar a outra parte
envolvida para escutar o que se está falando dela. Assim poderei ouvir
atentamente os dois lados da questão, perceber padrões de comportamento que me
mostre a gravidade da situação. Só após isso, procuro tomar uma atitude, porque
é algo que todas as crianças esperam do professor. E se não fizer, perderei
mais pontos na minha relação com meus alunos.
Quando
o aluno infringe uma regra proposta no começo do ano e avaliada pelos próprios
alunos, aproveito a oportunidade para abrir uma assembleia entre eles para
pensar no caso, discutir até mesmo as medidas a serem tomadas, como anotar o
nome da criança no diário do professor, receber uma advertência por escrito que
será encaminhada ao conhecimento do diretor, perder o dia de ajudar o professor
a apagar a lousa ou distribuir os trabalhos. Até mesmo ficar de fora dos
pequenos prêmios oferecidos pelos trabalhos realizados.
Tento não perder a oportunidade de conversar com meus
alunos sobre os nossos próprios comportamentos dentro da sala de aula.
Discutimos e tentamos entender tudo que nos afeta e como responder a isso. Esse
tipo de comportamento valoriza a afetividade escolar. Ou seja, acreditamos que
o sistema afetivo dentro da sala de aula contribui para o sucesso ou não do
processo ensino-aprendizagem.
Certa
vez, percebi que um garoto, nos seus 10 anos de idade, estava incomodando uma
colega de sala, que tem a mesma idade. Muitas vezes a garota chorava, outras
vezes buscava revidar os puxões de cabelos e beliscos. Já estava ficando impossível
de controlar e, mesmo buscando apaziguar o conflito dos dois, sempre iniciavam
a discussão na semana seguinte. Conversando com ambos, separadamente, percebi
que o estopim foi o “namoro” da menina com outro colega, de sala diferente.
Então percebi que já era algo além da minha sala. Nesses casos, a Gestão, os
Coordenadores e toda a Comunidade escolar devem participar, buscando meios de
mostrar aos adolescentes, que a maneira que escolheram para solucionar a
contenda não era a mais adequada. Nesse momento, todos os profissionais de
educação precisam estar preparados para contribuir para o crescimento dos
alunos e não agravar mais a situação, correndo o risco de esse estopim estourar
no lado de fora do muro, aumentando essa bola de neve que nem sabemos onde vai
parar.
Enfim,
precisamos estar atentos para esses ínterins, pois a Educação também é
responsável pela formação do caráter e da personalidade dos futuros cidadãos.
Contribuindo com exemplos salutares poderemos mostrar aos nossos alunos que é
possível resolver um conflito com uma boa conversa e acordos mútuos.
Sei
também que cada professor tem em sua prática modos diversos do meu para agir
quando um conflito surgir em sala de aula, mas gosto sempre de frisar: O
diálogo será sempre um bom negócio.
Espero que assim, no futuro, não tenhamos políticos
agredindo e sendo agredidos por causa das diferenças de ideias, desejos e
posições.
É isso.
DIR