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sábado, 20 de outubro de 2012

CONFLITOS EM SALA DE AULA


CONFLITOS EM SALA DE AULA



            É frequente nas salas de aula acontecer vários conflitos, geradores de brigas, desavenças, inimizades e agressões verbais ou físicas. Acontece porque reconhecêssemos que estamos falando de um espaço onde convivem muitos indivíduos e cada um com suas particularidades, crenças e gostos. É na sala de aula que produz esses encontros, da mesma forma acontece em empresas, escritórios, entre uma mesma categoria profissional e dentro de casa.

            Sem entrar no mérito da razão de um lado, da culpabilidade do outro. Sem querer discutir se os conflitos são influenciados pela cultura extramuros ou se os conflitos oriundos das salas de aulas são estopim para as desavenças futuras na sociedade. Precisamos, como cidadãos, reconhecer que nossa fragilidade está realmente aí: nas relações humanas. São essas questões que entravam projetos, que destroem sonhos, que emperram trabalhos, trazendo prejuízo a todos os envolvidos.

            Mas na sala de aula, sendo professor, como intervir da melhor forma e apagar a pequena chama acendida de um futuro incêndio?

            Em minha sala, por exemplo, procuro fazer a política contra fofoca. Sabemos que as crianças têm por hábito vigiar o comportamento dos colegas, por vários motivos. Creio que como sociedade, temos dado péssimos exemplos a elas. Então, quando uma criança se dirige a mim, como seu professor, para apontar alguma falha do colega, questiono-a se, antes de me informar, teria alertado o colega sobre as faltas. Sei que crianças dos primeiros anos do Ensino Fundamental terão mais dificuldades em compreender minhas intenções, no entanto, as crianças maiores já percebem que poderiam evitar o trabalho se alertassem o amigo ou se, ao menos, ignorassem o problema, caso não fossem atingidas diretamente. Até porque todo bom professor deve estar atento para todos os acontecimentos dentro de sua sala de aula, sendo assim, o aluno pode evitar aborrecimento, pois sabe que o professor já viu e terá que tomar atitude sobre o que viu.

            Você poderia estar questionando-me a respeito de minha atitude, mas creio que esses meus atos podem contribuir para que a criança pense em si e em sua relação com todos dentro da sala de aula. Inclusive comigo mesmo. Pois eu também não gostaria de que alunos meus procurassem fora da sala de aula a solução de um problema que eu causei. Por isso, mostro-me sempre disposto a rever até meu próprio comportamento com elas. E digo que, até hoje, tenho tido bons resultados.

            Mas se a criança ainda teima em delatar seus companheiros ao professor, ao “tio” e “tia” da creche ou, até mesmo, para os Inspetores de alunos? Para isso tenho o hábito de, antes do aluno denunciar e comentar o fato, chamar a outra parte envolvida para escutar o que se está falando dela. Assim poderei ouvir atentamente os dois lados da questão, perceber padrões de comportamento que me mostre a gravidade da situação. Só após isso, procuro tomar uma atitude, porque é algo que todas as crianças esperam do professor. E se não fizer, perderei mais pontos na minha relação com meus alunos.

            Quando o aluno infringe uma regra proposta no começo do ano e avaliada pelos próprios alunos, aproveito a oportunidade para abrir uma assembleia entre eles para pensar no caso, discutir até mesmo as medidas a serem tomadas, como anotar o nome da criança no diário do professor, receber uma advertência por escrito que será encaminhada ao conhecimento do diretor, perder o dia de ajudar o professor a apagar a lousa ou distribuir os trabalhos. Até mesmo ficar de fora dos pequenos prêmios oferecidos pelos trabalhos realizados.

Tento não perder a oportunidade de conversar com meus alunos sobre os nossos próprios comportamentos dentro da sala de aula. Discutimos e tentamos entender tudo que nos afeta e como responder a isso. Esse tipo de comportamento valoriza a afetividade escolar. Ou seja, acreditamos que o sistema afetivo dentro da sala de aula contribui para o sucesso ou não do processo ensino-aprendizagem.

            Certa vez, percebi que um garoto, nos seus 10 anos de idade, estava incomodando uma colega de sala, que tem a mesma idade. Muitas vezes a garota chorava, outras vezes buscava revidar os puxões de cabelos e beliscos. Já estava ficando impossível de controlar e, mesmo buscando apaziguar o conflito dos dois, sempre iniciavam a discussão na semana seguinte. Conversando com ambos, separadamente, percebi que o estopim foi o “namoro” da menina com outro colega, de sala diferente. Então percebi que já era algo além da minha sala. Nesses casos, a Gestão, os Coordenadores e toda a Comunidade escolar devem participar, buscando meios de mostrar aos adolescentes, que a maneira que escolheram para solucionar a contenda não era a mais adequada. Nesse momento, todos os profissionais de educação precisam estar preparados para contribuir para o crescimento dos alunos e não agravar mais a situação, correndo o risco de esse estopim estourar no lado de fora do muro, aumentando essa bola de neve que nem sabemos onde vai parar.

            Enfim, precisamos estar atentos para esses ínterins, pois a Educação também é responsável pela formação do caráter e da personalidade dos futuros cidadãos. Contribuindo com exemplos salutares poderemos mostrar aos nossos alunos que é possível resolver um conflito com uma boa conversa e acordos mútuos.

            Sei também que cada professor tem em sua prática modos diversos do meu para agir quando um conflito surgir em sala de aula, mas gosto sempre de frisar: O diálogo será sempre um bom negócio.

Espero que assim, no futuro, não tenhamos políticos agredindo e sendo agredidos por causa das diferenças de ideias, desejos e posições.

É isso.

DIR

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

AFETIVIDADE ESCOLAR



AFETIVIDADE ESCOLAR

“para aprender, é mais eficaz uma curiosidade espontânea do que um constrangimento ameaçador” – Santo Agostinho.

            
Muitos filósofos e estudiosos (Santo Agostinho, Vigotski, Luria, Paulo Freire, Julio Groppa de Aquino, Miguel Gonzalez Arroyo, Telma Weisz, Sisto, entre outros) têm-se preocupado com a afetividade no processo ensino-aprendizagem. Na sala de aula encontramos reunidas pessoas de diferentes famílias, histórias e, até mesmo, culturas. E a relação entre elas, no ato educacional, provoca reações psicológicas diversas.
            
Paulo Freire, em Pedagogia da Autonomia, escreveu:

“Nas minhas relações com os outros, quer não fizeram necessariamente as mesmas opções que fiz, no nível da política, da ética, da estética, da pedagogia, nem posso partir de que devo ‘conquistá-lo’, não importa a que custo, nem tampouco temo que pretendam ‘conquistar-me’. É no respeito às diferenças entre mim e eles ou elas, na coerência entre o que faço e o que digo, que me encontro com eles ou com elas. (FREIRE, 2002, p.152).

 Seguindo o pressuposto da singularidade em sala de aula, das especificidades de cada um, da heterogeneidade imanente, o educador deve levar em conta que seu trabalho educativo terá bons frutos, quando no planejamento e execução, levar em conta todos esses determinantes.
  
O professor, como membro mais experiente dessa relação, deve considerar as circunstâncias que afetam seus alunos e a si mesmo. Entender o sistema afetivo na sala de aula contribui para desenvolver melhor suas aulas, alcançando satisfatoriamente os objetivos propostos.


Arroyo (2005) discutiu bem o hábito positivista de muitos professores em desconsiderar o lado emotivo e afetivo na educação, pois:


O cognitivismo e cientificismo tão dominantes nas últimas décadas nos currículos, na avaliação, nas didáticas de ensino e na formação dos licenciados criaram na cultura docente a ilusão de que era possível trabalhar mentes incorpóreas solidárias, pairando no vazio biológico e material, social e cultural (Arroyo, 2005, p. 131)         

A autoestima dos alunos e do professor interfere no processo educativo. Um aluno que crê não ser capaz terá mais dificuldades em aprender do que aquele que gosta e sente-se confiante. Desse modo, desconsiderar os sentidos e significados que o aluno atribui ao objeto de ensino-aprendizagem torna-se um grave erro. De acordo com Weisz:

“Se o professor não sabe nada sobre o que o aluno pensa a respeito do conteúdo que quer que ele aprenda o ensino que oferece não tem ‘com o que dialogar’. Restará a ele atuar como numa brincadeira de cabra-cega, tateando e fazendo sua parte, na esperança de que o outro faça a dele: aprenda (Weisz, 2001, p.42)

O mesmo ocorre com o professor quando sente insegurança demais para ministrar o curso. Suas concepções sobre metodologia de ensino, sobre sua própria imagem e função contribuem para um bom ou péssimo desenvolvimento da atividade educativa.

          
Para evitar tal situação o planejamento docente, acompanhado de estudos constantes, é essencial. Somado a isso, a sensibilidade e a motivação do professor para com o aluno ajuda a transpor barreiras no aprendizado.
            
O professor como mediador experiente da relação educacional tem que propor meios para a valorização de todos os membros, independente de suas origens, preferências ou histórico escolar. Do mesmo modo o próprio professor precisa estabelecer base para sua própria valorização e respeito pelos alunos.
            
É óbvio que o sistema afetivo não é tão simples assim, como foi descrito acima, pois há outros fatores envolvidos que ultrapassam a sala de aula e atingem além muros das escolas.
            
Penso ser uma cadeia de relações que envolve toda comunidade escolar, representantes governamentais e instituições. Mas não é por esse fato que a relação afetiva será prejudicada na sala de aula.
            
Assumir compromisso como educador é estar ciente da especificidade do ato educativo. Esse diz respeito à luta pela valorização e desenvolvimento da comunidade humana.


REFERÊNCIAS
AQUINO, J. G. Confrontos na Sala de Aula: uma leitura institucional da relação professor-aluno. São Paulo: Summus, 1996.

ARROYO, M. G. Imagens Quebradas: trajetórias e tempos de alunos e mestres. 2.Ed. Petrópolis: Vozes, 2005.

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2002.

MARTINS, L. M. A formação social da personalidade do professor: um enfoque vigotskiano. Campinas: Autores Associados, 2007

SISTO, F. F; MARTINELLI, S. C (orgs). Afetividade e dificuldade de aprendizagem: uma abordagem psicopedagógica. São Paulo: Vetor, 2006.

WEISZ T. E SANCHES A. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem. São Paulo. Ática, 2001

sábado, 22 de setembro de 2012

AVALIAÇÕES

AVALIAÇÕES



         Muitas pessoas, na época escolar, já temeram o termo “avaliação” e até ficaram doentes na véspera da prova. E isso não é por acaso, já que esse instrumento educacional tem sido aplicado de forma punitiva, em vez de formativa.
         Punitiva porque os alunos que não iam bem nas provas eram taxados de preguiçosos, indisciplinados e, até mesmo, burros. Antes das mudanças trazidas pelo “Programa Progressão Continuada” (não vou entrar no mérito da questão) e da “Recuperação Paralela” os repetentes eram até mesmo segregados às salas dos mais fracos. Geralmente em salas que correspondiam as letras D, E, F.
         Essa cultura autoritária e repressiva, apesar dos avanços dos estudos acadêmicos, ainda está presente na maioria das escolas.

FORA DO MURO DA ESCOLA
        
        O medo da avaliação não ficou só dentro das escolas. Depois de formar uma cultura autoritária e repressiva em milhares de mentes, disseminou-se por toda sociedade.
         Trabalhando em uma fábrica, o operário já estará ciente que será avaliado por um superior, constantemente.
         E muitas vezes quando surpreendido por um erro, até mesmo intencional, torna-se alvo de recriminações e ameaças. Sujeito a assinar advertência, que, por sua vez, será motivo para o trabalhador não participar da progressão salarial.
         Numa loja de departamento, outro exemplo, sempre há quem esteja de olho na falha do outro. Não para socorrer e corrigir, mas para surpreender e punir. Assim, tem condições de subir (seja lá pra onde) no emprego.

E O TIRO SAI PELA CULATRA
         Se a intenção de uma avaliação dessa era reformar o comportamento da vendedora, do empregado ou do aluno, para que desenvolvam um trabalho melhor, na verdade produz baixa autoestima, aversão contra o avaliador e contra a instituição ou empresa, desprazer em realizar as atividades, diminuição da autoconfiança, inimizade. E daqui em diante inúmeras situações negativas.
         Um péssimo sinal para uma empresa, porque esse estado de coisa é contagioso. A qualidade da produção cai, a relação humana fica insustentável e, logo, corre o risco de demissões ou greves.
         Para a escola, o mesmo estado negativo provoca desmotivação nos alunos, falta de autoconfiança no processo de ensino-aprendizagem. Os alunos começam a manifestar irritabilidade e desprazer com as atividades pedagógicas e com a escola.

DAS AVALIAÇÕES FORMATIVAS
         Todas as avaliações deveriam ser formativas e diagnósticas. Isso significa que o momento avaliativo serve para identificar dificuldades, buscar soluções. Encontrar aprendizado e competência dos alunos e planejar ações diante resultados obtidos.
         Se por acaso um aluno não consegue fazer operações multiplicativas, com a avaliação o professor deverá ser capaz de planejar meios para efetivar o aprendizado da criança.
         Numa fábrica, o supervisor deverá usar as avaliações rotineiras para identificar pontos problemáticos e propor soluções para eles. Culpabilizar nunca solucionou problemas de produção. No entanto, uma equipe motivada, organizada e coesa, com um supervisor capaz de comunicação e relação afetiva pode, juntos, buscar soluções e aumentar a eficiência.
         Já um professor capaz de usar a avaliação formativa e diagnóstica terá condição de entender seus alunos, se aproximar deles e ajudá-los o quanto for necessário. Aumenta, assim, a confiança que o aluno tem pelo professor. E também a admiração e respeito.

SARESP/PROVA BRASIL/ENEM
         Já ouvi muitos professores preocupados com as pontuações que a escola recebe no SARESP ou na PROVA BRASIL como se estivessem numa competição entre escolas.
         Muitas vezes os dados dessas provas não são trabalhados com os professores para adequar planejamento escolar e o Projeto Político-Pedagógico. Conheço, até, escolas que não têm um Projeto Político-Pedagógico.
         Pode até ser que essas provas sejam classificatórias, como o ENEM, para que o candidato alcance uma vaga desejada. Mas o SARESP, a PROVA BRASIL e, até mesmo, o ENEM trazem dados ótimos para nossa autoavaliação. Com esses dados podemos identificar nossas dificuldades e buscar meios de solucionar. Não para ganhar uma competição que não existe. Mas para ser cada dia melhor do que antes.

A RELAÇÃO HUMANA NA ESCOLA
         Paulo Freire muitas vezes em seus textos denunciou as instituições escolares tradicionais e repressoras, de uma educação bancária, pautada numa relação hierárquica e autoritária.
         Num exemplo bem simples, o diretor é intransigente com o professor. O professor é rude com o aluno. E em quem os alunos irão descontar? No cachorrinho?
         Há climas de medo entre funcionários e vendedores com supervisores que muitas vezes usam seus cargos para oprimir e até tirar vantagem de seus trabalhadores.
         Na escola, educadores acabam retraídos com uma gestão repressora. E muitas vezes a gestão utiliza de avaliações tendenciosas para punir funcionário que não se enquadram com os princípios da direção.

AUTORIDADE NÃO É AUTORITARISMO
         Muitas pessoas, principalmente educadores, confundem AUTORIDADE com AUTORITARISMO. E acredito que essa confusão é base dos principais problemas presentes nas relações humanas e educacionais.
         Enquanto AUTORITARISMO é uma força violenta de alguém para subjugar outra pessoa, AUTORIDADE é o poder dado a alguém, pelos seus companheiros, por causa do conhecimento e competência demonstrados.
         Exemplificando: Na escola, o professor só tem autoridade sobre os alunos, se os alunos reconhecerem que o professor tem conhecimento e competência para fazer o que se pretende.
         Já o professor é autoritário, pois precisa impor uma força de coerção sobre os alunos. Os alunos, como percebem a incapacidade do professor, não concedem a autoridade.
         O mesmo acontece com o Prefeito e os vereadores eleitos. O poder que eles têm não é propriamente deles, mas concedidos pelas pessoas que reconhecem o conhecimento e a competência dos representantes.
         É isso!

sábado, 5 de maio de 2012

DE VOLTA À INFÂNCIA


DE VOLTA À INFÂNCIA

         As crianças têm necessidades imperiosas de comunicar-se. Quando descobrem, então, a fala, é como se ganhassem um presente de dimensão sem cálculo. Esse poder, as crianças levarão a última consequência. De posse desse poder, descobrem o mundo interno e externo. Tornam-se participante. Utilizam-na sem medo, como que um aventureiro desbravando uma mata fechada.

         É preciso testar o alcance do poder adquirido. Tudo se torna palavras sonoras já que perceberam que assim, melhor compreendidos, sua comunicação torna-se eficaz. Todo sentimento torna-se palavras sonoras. Se escrevessem seriam poetas? Aliás, a poesia não se restringe à escrita. Como exemplo os trovadores. Crianças são trovadores que cantam a vida. São os melhores comunicadores. Mesmo mudas, comunicam-se. E até mudas, por alguma fatalidade daquilo que os adultos chamam de destino, elas produzem comunicação. A criança em sua motricidade é comunicação, em sua essência é comunicação. Criança é comunicação.

            Mas quando chega a idade madura, deixamos a fala de lado. Acreditamos que meias palavras ou palavras e meia são suficientes.  Acreditamos que os nossos não-ditos, nossos olhares escondidos possam entregar nossas almas, podem dizer o que realmente somos. Tudo porque temos medos de dizer realmente o que somos, o que pensamos, o que queremos. Deixamos a mobilidade para sermos imóveis na estúpida justificativa de manter a energia. Para não perder a energia, para preservar, para não gastar. Como também para não criar conflitos, para sermos mais sociáveis, para sermos corteses.

          Dizem que um ponto já é um conto. Incerto. Outros acreditam que o olhar é tudo, um pequeno gesto. O que nos dá, diferentemente das crianças, é uma preguiça mental ou um descrédito a esse fabuloso instrumento, a voz. Comunicar-se, saber dizer. A nossa fé diminuta no poder de criação, que somos, é nossa falta de ação. Enfim, adultos não se comunicam como crianças, e são ineficientes, não se comunicam com as crianças e são incompreensíveis. Nossa lógica e nossa racionalidade precisam passar pelo crivo das crianças. Deve ser por isso que muitos de nós não suportamos os trinados infantis e as canções pueris.

          Quantos de nós (E até eu cometi esse grave despropósito) já pedimos aos infantes que calassem, pois os adultos estavam falando? Quantos professores proibiram a manifestação oral em sala de aula, pois isso atrapalharia a produção escrita e ou produziria a bagunça e a indisciplina em sala de aula? Quantos pediatras não perguntaram às crianças o que realmente estavam sentindo? Quantos amigos nossos não perguntaram a idade de nossos filhos desconsiderando-os presentes em nosso meio e entendendo e tendo condições de responder a essa e tantas outras perguntas? Temos sistematicamente feito as crianças calarem, tirando seus direitos de dizer, de expressar, de comunicar. As crianças têm necessidades de comunicar. Nós esquecemos a nossa. As crianças precisam falar, nós as censuramos.

            Como é sábio o conhecimento cristão. Só merece o reino quem se assemelha a esses pequeninos. De fato, quanto mais se afasta do poder maravilhoso da infância, mais se perde do fabuloso mistério de ser humano.

            Não pode trabalhar com uma criança quem não entende esse maravilhoso universo vivido por elas. Da mesma forma não pode lidar com uma criança quem não a compreende por toda sua completude. E a isso refiro-me a quem se propõe a ser um pediatra, um psicólogo, uma enfermeira, um professor, um pedagogo, um diretor escolar, um coordenador pedagógico, um psicopedagogo,um palhaço, um apresentador de programas infantis, uma merendeira, um catequista, um pastor, um padre, um produtor de músicas infantis, um escritor infanto-juvenil, um padrinho, uma madrinha,  uma tia, um pai, uma mãe e tantos e tantos outros.

         Deixemos de lado a pretensão de tornar nossas crianças em adultos em miniaturas. Deixemos aqueles velhos e desgastados chavões de que somos jardineiros e estamos plantando sementinha em cada uma dessas crianças e, quando necessário, devemos podá-las para crescerem na direção certa. O que é uma direção certa? O que é o caminho certo? Não fomos crianças também? Não erramos e com nossos erros aprendemos? Devemos mostrar os nossos mundos partindo dos mundos criados por ela. Não devemos impor e sim propor.

            Assim, fica subentendido, que para se ter uma criança ao lado precisa ser como ela, falar como ela, comunicar como ela, viver como ela.

         Entender uma criança e não fazer com que ela nos entenda. Porque lidamos com um mundo não nosso, mas delas, com as perspectivas delas. Respeitando-as teremos pessoas que também nos respeitarão.

         É isso aí.

 

Valdir dos Santos Lopes

Psicopedagogo - Clínico e Institucional


TELEVISÃO E A INTERNET EM SEUS VALORES



2009-11-06 11:31
Revisão 05/05/2012  
          Nos últimos tempos, a televisão tem sentado no banco dos réus como a principal suspeita pelas inversões de valores, violência e descalabros sociais. Defensores afiados em suas críticas contra os programas televisivos têm anunciado a presença de uma sociedade acéfala, incapaz de refletir e analisar os programas assistidos, aceitando compassivamente todas as ideias propostas por esse instrumento de comunicação.  A mesma crítica é feita sobre o uso da internet, hoje, o meio de comunicação mais usado por nossa sociedade. Credita-se à esse instrumento a possibilidade de bestializar os usuários que buscam apenas futilidades, inversões de valores e fim da criticidade.

           Os brados são muitos e chegam a propor, de forma saudosista, programas antigos que não exponham e não deturpam a moralidade. Gritam os moralistas que os adolescentes são as principais vítimas, pois são os mais suscetíveis a essa ameaça. Dizem também, que a camada popular, porque ignorante e não dotadas de senso crítico, são vítimas dos interesses megalômanos e capitalistas das grandes corporações e empresas capitaneadas pelas classes ricas. Procuram, por meio desses argumentos, a censura de programas e meios de comunicação que expõem a comunidade aos pensamentos "inadequados" que reproduzem.

         Mas até que ponto tudo isso é correto? Por que atribuir à televisão a culpa por todas as mazelas sociais? Por que dizer que o acesso democrático da internet pode ser considerado empecilho ao desenvolvimento intelectual e crítico do indivíduo? Então, a educação, a moralidade, a ética e os valores em geral foram transformados pelos programas de televisão? Eles têm tanto poder assim? E por que não fazer uma análise mais profunda e compreender se os pressupostos elencados acima são realmente validados?
         Essa discussão com toda certeza daria muitos elementos e, por isso, seria demasiadamente longa. No entanto há como discutir, refutar ou aceitar certos pressupostos. Não devemos delegar à televisão e  à todo sistema de comunicação e informação toda a dificuldade e problemática presente em nossa sociedade. Não devemos creditar o sucesso da televisão, a propagação e democratização do acesso à internet e a situação social, econômica e cultural de uma camada populacional à ignorância e falta de senso crítico. Não devemos generalizar e indicar que todos os programas televisivos são de mau gosto e, por fim, mesmo aceitando que a televisão traz certos malefícios aos adolescentes, ela também é (e poderá ser) um grande instrumento de educação, cultura e lazer. De mesmo modo, a internet é a possibilidade de trazer mais acesso e poder de intervenção dos indivíduos em sua comunidade.

         A televisão e o computador são  instrumentos e, como todo instrumento, seus efeitos serão de acordo com o uso que se faz deles. Se abandonarmos o pensamento mítico e usarmos de nossa criticidade, poderemos "despersonificar" o aparelho “televisão” e atribuir aos verdadeiros culpados às transformações que vivenciamos. Somos nós que devemos cobrar qualidade e, quando não há, somos nós que devemos nos negar a participar. Agora, participamos quando reconhecemos que algo faz sentido e parte de nossa vida. Oras, se encontramos audiência para a banalidade, será que a banalidade não está presente em nossa vida e fazendo sentido? Será que a televisão não vem apenas refletir o que já está presente em nós. Será que o grande número de brasileiros usando Facebook ou Orkut, escrevendo e "curtindo" certos conteúdos não reflete o que somos enquanto consumidores? A dimensão criativa da televisão não é tão grande a ponto de transformar toda a sociedade num sopro só. Seria até mítico dá ao instrumento inanimado e/ou controlado por nós o poder de perverter a sociedade. Senão, seria muito fácil "consertar". Então exibiríamos sempre um programa considerado de "qualidade" e a sociedade tornaria uma sociedade de "qualidade". Acredito que os tempos de censura tentaram e não lograram. Mas não é bem assim que funciona. Há muito elemento envolvido. É apropriando-se adequadamente de um instrumento que teremos respostas adequadas. E os adjetivos "adequados" e "qualidade" são muito pessoal, subjetivo que não me atrevo a determinar padrões. O que para mim é qualidade, para outros, não.
         Se somos críticos a ponto de reconhecer a baixa qualidade, a violência e as inversões de valores em determinados programas televisivos, devemos ser críticos o bastante para reconhecer que muitos programas trazem neles uma consciência coletiva do que somos, de como estamos e para onde vamos. Se realmente estamos preocupados com as qualidades discursivas dos jovens nas redes sociais, devemos, também, reconhecer que esse meio de comunicação possibilita, por outro lado, a interação educacional da sociedade. O que não é surpresa para todos ao perceber o avanço dos cursos EAD. O que isso indica? Que diante desses programas e possibilidades comunicativas possuímos vários e sérios instrumentos reflexivos sobre a nossa realidade.
         Agora, seria de um mau gosto e acrítico culpabilizar a camada popular pelo sucesso dos programas de "baixa qualidade" devido à "ignorância" e falta de "cultura" ou pelo Brasil já ser o segundo país em uso da internet e redes sociais. Quem, ainda hoje, usa esses adjetivos para indicar uma determinada classe ou povo, tem muito que aprender e conhecer melhor esse mesmo povo. Não podemos aceitar esse discurso reducionista e generalizado, pois quem carrega esse discurso tem pouca vivência e desconhece a sabedoria popular e as habilidades forjadas na vida de um ser humano. Como ser humano, não devemos repudiar ou excluir outro  ser humano, diferenciando pelo poder intelectual, pelo grau de erudição ou escolarização. Esse artifício é o mesmo usado para encontrar, (não sei se é o termo adequado) uma raça perfeita. Como crítico, defensor da ética humana, não aceito ouvir um falar tão preconceituoso e cheios de maus ditos.
         Se nossa sociedade não caminha bem, se não temos mais respeito um pelo outro, se nossa cultura decaiu e nossa moralidade extinta, se nossos filhos não sabem mais respeitar os valores que tanto preservamos e se a nossa vida anda muito complicada, não é culpabilizando a televisão que teremos uma resposta. Não é delegando aos jovens facebookers a culpa do retrocesso intelectual de uma sociedade. Não teremos meios de compreender enquanto usarmos do artifício da culpabilização. Porque culpando alguém, tira-nos a responsabilidade de se envolver e de, junto, buscar uma solução. Porque culpando alguém ou alguma coisa, podemos, temporariamente, dizer-nos que estamos livres da responsabilidade dos efeitos que a sociedade nos apresenta. E isso não é ser crítico e sim comodista. Não é ser sábio e sim traidor.
 
PROFESSOR
VALDIR DOS SANTOS LOPES

quinta-feira, 26 de abril de 2012

POR QUE ESCREVER?

POR QUE ESCREVER
           

           No decorrer da minha vida de estudante-professor e, depois, professor-estudante fui aprendendo e construindo significados sobre a leitura e a escrita. Isso foi e é importante para mim como escritor (que escreve e não só um ficcionista ou profissional da escrita).

            Saber por que escrever não é só direito de quem aprende, mas um dever de toda a comunidade escolar proporcionar esse aprendizado.
            O que venho constatando no meu percurso dentro das instituições educacionais é a falta de clareza sobre os motivos ou necessidades de escrever. Em consequência disso, alunos escrevem para um professor que tem a obrigação de "decifrar" a escrita para somente atribuir determinado conceito sobre o trabalho.
            Percebo que a comunidade escolar tem dificuldade em atribuir valor (valor social é um dos principais valores a ser pensado) ao processo de leitura e escrita. Pois há e sempre haverá uma necessidade para se escrever e/ou ler. (Mesmo sendo essa necessidade a mais simples ou trivial). O escritor tem que compreender a motivação do seu ato de escrita. Como também o leitor perceber a motivação do seu ato de leitura.
            Lê-se para identificar elementos de um produto, compreender regras de um jogo, perceber tempo e espaço, orientar-se dentro de um grupo entre outras motivações.   

      Escreve-se para guardar informações de um tempo, organizar relações interpessoais, comunicar fatos, orientar procedimentos entre outros. E também lemos e escrevemos pelo simples prazer. Até mesmo essa fruição está deslocada no processo ensino-aprendizado da leitura e escrita.
            Trabalhar essas duas habilidades é compromisso não só do professor de português, pois todas as outras disciplinas necessitam desse instrumento para se realizar. Essa proposição já é muito gasta e todos já ouviram uma vez na vida, mas parece que o ensino-aprendizado de alguns conteúdos ou a ação educativa de alguns educadores vem se afastando cada vez mais da compreensão e do uso da língua.
            Por isso todos os professores devemos ser escritores e leitores competentes. Precisamos gostar e praticar leitura e escrita diariamente. Outra necessidade é a urgência dos educadores pensarem em trabalhar com projetos inter e transdiciplinares. Já é tempo de pararmos de pensar em disciplinas estanques que não se relacionam com a vida do aprendiz e com outras áreas do conhecimento. Se não, continuaremos fadados a ouvir os já desgastados adjetivos (ou jargão?): analfabeto funcional e iletrado.

Valdir dos Santos Lopes
Estudante de Pedagogia pela Unesp/Univesp
Pós-graduado em Psicopedagogia pela Funepe
ESCREVER É UMAS DAS FORMAS MAIS PRAZEROSA DE SE PERPETUAR

terça-feira, 24 de abril de 2012

RETORNO EM 2012



Olá. Meu nome é Valdir Lopes e devo considerações e explicações para que compreendam o que está acontecendo.

Fui o idealizador, junto com a minha amiga Professora Luciana Paes (que estou com muita saudade de você, por onde anda?), desse blog chamado CANTINHO DA GABRIEL. (O blog passou a ser chamado Professor Valdir Lopes). Em abril de 2009 começamos a colocar no ar as ideias que tínhamos. No entanto o tempo passou. Na escola muita coisas mudaram e o projeto ficou abandonado na gaveta das nossas agendas. A Professora Luciana não trabalha mais comigo, mas está em outra unidade e eu permaneci na Escola Gabriel.

Tive a ideia de excluir o blog ou continuar. Com a nova organização, o blog não poderia ser um instrumento oficial que representasse a escola no seu todo. Dessa forma, optei por transformar esse espaço num lugar particular. Ou seja. Os textos aqui expostos, as participações, comentários e reflexões não refletem por completo, ou em sua totalidade, à instituição Gabriel José Martins. 

Mesmo que haja trabalhos significativos dos professores e alunos que lá atuam. É uma maneira de não perder esse espaço e, até mesmo, dar possibilidade a atual gestão de produzir seus próprios espaços e trabalhos. Coisa que eu estarei à disposição para ajudar sempre quando necessitar, pois faço parte da comunidade educacional dessa unidade.

Como sou professor formado em Letras (com especialização em Língua Inglesa) perceberão que darei maior atenção aos trabalhos dessa área. No entanto estou terminando o meu curso de Pedagogia e já posso contribuir muito com as outras áreas do conhecimento. Também sou Pós-graduado em Psicopedagogia Clinica e Institucional. Para essa área, que é complementar ao blog CANTINHO DA GABRIEL, tenho o blog PSICOPEDAGOGIA que também será usado para discutirmos e trocarmos experiências.Tanto para este e outros blogs que possuo, vocês terão a oportunidade de contribuir postando comentários ou enviando textos para meu e-mail pessoal: valdirfilosofia@gmail.com ou valdirfilosofia@hotmail.com. Já sou muito grato pela participação de vocês.